O efeito do sucesso de Carrossel – a melhor novela já produzida pelo SBT – está sendo observado em Malhação e em Rebelde. E com resultados bem insatisfatórios para a trama da Rede Record. A emissora, aliás, nunca enfrentou tantos problemas em suas novelas, má fase que eu espero que seja superada com a estreia de Balacobaco, substituta da catástrofe Máscaras. Mas, de volta ao universo da garotada, as três obras citadas acima lutam pela atenção do público jovem, seara dominada há anos por Malhação, mesmo que em meio a alguns altos e baixos da novelinha e boas presenças de Chiquititas (1997), Floribella(2005), Dance Dance Dance (2007), Isa TKM (2010) e Isa TK+ (2010). Mas até então nada havia abalado a hegemonia de Malhação. No ano passado, Rebelde surgiu com força total, amparada pelo fenômeno da versão original mexicana. Mesmo os fãs mais radicais do grupo RBD, queriam assistir mesmo que fosse para falar mal do remake. E foi mesmo uma bela temporada, revelando os talentos de Rayana Carvalho, Morwse, Pedro Cassiano, Lua Blanco, Mel Fronckowiak e Arthur Aguiar. Rebelde também se beneficiou da rejeição do público junto à dramaturgia modernosa e cheia de mistérios sobrenaturais de Ingrid Zavarezzi.Malhação ia mal e Rebelde parecia querer ocupar seu espaço.
Só que, este ano, estreou uma segunda temporada fraca, com falsos vampiros e temas tolos, que afastaram o espectador. Nem mesmo a revelação dos ótimos Ully Lages e Thiago Amaral deu gás à produção e até os seis protagonistas (Lua Blanco, Sophia Abrahão, Mel Fronckowiak, Micael Borges, Arthur Aguiar e Chay Suede) tiveram suas historias esvaziadas em função da agenda de shows e eventos que passearam cumprir com o grupo, Rebeldes. Enquanto musicalmente a repercussão só melhora, dramaturgicamente, Rebelde não soube aproveitar o desinteresse do público por Malhação, por culpa também de um programador incompetente. Rebelde passou a circular nos mais variados horários da emissora e, eu mesmo, cheguei a assistir à novelinha depois das 22h…
E, como diz o velho ditado futebolístico, “quem não faz gol, leva!”. Resultado: a Record deu tempo para a Globo se reestruturar e lançar a 20ª temporada de Malhação , voltada novamente para um espectador bem mais jovem. E, mesmo que ainda não esteja fazendo o sucesso esperado, isso não deverá demorar a acontecer, já que a história é boa e o elenco, eficiente. Parar piorar a situação da Record, o SBT ainda estreou uma versão nacional e irresistível de Carrossel, que conquistou o coração dos baixinhos e dos altinhos, como este que vos escreve. Carrossel encanta pela pureza, inocência e seriedade com que aborda temas complicados como racismo, intolerância religiosa e social, bullying, obesidade infantil, conflitos entre pais e filhos, competição… A autora Iris Abravanel conseguiu criar um canal de comunicação tão bom com seu público, que, muitas vezes, parece que Carrossel é escrita por uma criança. Tamanha a identificação de quem assiste pela trama e, principalmente, por seus personagens. O elenco mirim é tão bom e natural que seria injustiça citar alguns e deixar alguém de fora. Por isso, aplausos para todos. E Rosanne Mulholland superou o tom ligeiramente artificial da Professora Helena – nos primeiros capítulos – e imprimiu muita doçura à personagem, sem torna-la tola ou fraca.
O ótimo rendimento de Carrossel foi realmente mortal para Rebelde. Mesmo que as novelas não competissem diretamente pela audiência, a comparação no imaginário do público foi inevitável. E Rebeldesaiu perdendo violentamente. A audiência despencou e a saída escolhida pela Rede Record foi a pior de todas. Em vez de tentar inovar ou estimular a inteligência de seu espectador, a emissora optou por copiar. A autora Margareth Bourty foi substituída por Emilio Boechat, que é muito bom, mas precisou infantilizar o enredo além da conta. Um núcleo mirim foi criado, protagonizado por Clara Tiezzi e Cássio Ramos, e até um cachorro, clone do Rabito de Carrossel, foi tirado da cartola. Não sei o que vai acontecer com essa “operação resgate”, mas torço para que a Rede Record consiga reverter essa situação. Afinal, quem lucra com boas e variadas opções para seu lazer e aprendizado na telinha é o público. E de qualquer idade!